sábado, 19 de junho de 2010

Estátua Falsa - Mário de Sá-Carneiro

 Foto: Kuzma


Só de ouro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minha'alma desceu veladamente.

Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distancia.

Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de mêdo!

Sou estrêla ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar...

Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão'

5 comentários:

lolipop disse...

A sua escolha de poemas e imagens reflecte não só sensibilidade e cultura, como sentido estético apurado...
Obrigada por partilhar isso!
TERNURAS

Talles Azigon disse...

amoooooooooo

sabes que o pobi se matou
como diria a Adriana um bichinha complicada

ela canta do mario

eu não sou eu, nem sou o outro
- sou qualquer coisa de intermédio
pilar da ponte de tédio
que vai de mim para o outro

um gênio da poesia

Lívia Inácio disse...

Lindo esse poema,Michelle!

Adoro Mário de Sá Carneiro!

Bjinhos***

"(H²K) 久保 - Hamilton H. Kubo" disse...

Saudações.
Quantas belas poesias aqui hein!

Beijos!

ONG ALERTA disse...

Estátuas talvez um dia tiveram vida, paz.
Beijo Lisette

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